sábado, abril 27, 2019

Sexta-feira, Junho 19, 2009

Desopinação

Ultimamente tenho-me dedicado às leituras obtusas, deambulo pela net numa tentativa incessante de achar o óptimo. Doem-me os rins, torço-me sem saber exactamente se é da leitura se é dos rins. Que raio de tentativa de analogia mal conseguida. Já achei coisas de leitura "espasmódica", sabem o que é? É aquela leitura de que não estamos à espera e se revela uma notável descoberta. Mas também tive o prazer de ler as maiores merdas que imaginar se pode. Em Lagos, no pasquim oficial da cidade, podemos ter esse prazer, ler idiotices sem nexo, até doer a barriga de tanto rir e os rins, claro!
Acho piada ao ler certos artigos de autores ressabiados consigo próprios. Escrevem mas na normalidade não dizem nada, não deixam, contudo, de estar convencidos do contrário. Deambulam por um imaginário DANTESCO. Fico perplexo, afogado em pensamentos de comiseração. Leio auto elogios repletos de intelectualidade bacoca, roçando repetidamente a imbecilidade. Usam palavreado que só eles entendem, termos "dicionarescos", palavras difíceis até de contextualizar e terminam os textos, invariavelmente, com analogias grotescas, disparatadas que só servem a um imaginário brutal de ignorância e falta de respeito por quem se dedica a lê-los. Eu leio-os, claro que sim, se não lesse como raio é que eu podia ter este ar comiserado e impoluto?
Após scriptum ou lá como raio se diz isso:
Há pouco, pelo telefone, uma amiga dizia-me:
- " Oh pá, atão tu criticas os outros cabrões que escrevem coisas que não entendes e usas um palavreado caro que ninguém entende"? Disse-me ela, ou perguntou, sei lá. Respondi com a maior das naturalidades que não concordava e que até me tinha sabido bem ir escrevinhando ao som do pensamento, mas decido vir reler. Deparo-me com uma escrita claustrofóbica, muito plagiativa no sentido citativo, horrível, mas deliciosamente intersubjectivante. Cum caraças, será que aqueles gajos não me veem aqui ler e aprendem alguma coisita? Adorei esta merda e não a vou mudar nada.

sexta-feira, abril 26, 2019

Voltar a escrever com alguma frequência sem entrar em longos monólogos sobre a vida politica nacional, muito menos regional e nem pensar em me abalançar a falar sobre a local, é uma intenção minha que aqui começa a ter algum corpo. Não é politicamente correto falar sobre a politica, nem sequer é bom porque passados uns anos relemos o que escfevemos e deparamo-nos com algo pouco agradável. Hoje leio o que escrevi há uns anos e fico perdido no tempo. Procuro alinhar o sentido de um texto com uma foto e não con sigo. Um amigo dizia-me há uns dias que juntar a escrita à fotografia obriga a seguir uma linha que se une precisamente no ponto em que se separa a escrita da fotografia. Não entendi esta ideia por nem sequer conseguir colocar a realidade a par da ficção. Hoje ao escrever alinhando a escrita com a fotografia deparo-me com a inutilidade da vontade nem sequer tem sentido tentar escrever sobre uma fotografia. Não percebo a necessidade de juntar numa só linha de pensamento as duas ideias. A escrita e a fotografia. Não quero mesmo. Elas não precisam, sequer, de se complementar, precisam, isso sim, de alguma coerência ainda que separadamente e cada qual para seu lado. Será que a isto se chama liberdade? Não sei, mas sei que sabe bem ter esta liberdade e não me importar de asneirar. 
A fotografia, para mim, nunca foi um condicionalismo estético de apresentação obrigatória. Sempre a vi como uma critica interna de movimentação entre os meus "gostos" por entre as diversas áreas que me interessavam registar. A monumentalidade arquitectónica interessou-me desde os primórdios do click mas sempre nos aspectos menos apreciados pela generalidade dos fotógrafos. Quando eu ia para a rua fotografar interessava-me "retratar" o quotidiano dos lugares e pouco a grande monumentalidade. Muitas vezes olhava para os edifícios históricos e ficava meio sem jeito e a não perceber porque ponta começar, no entanto um vaso de flores colocado meio tordo numa janela a cair de podre era motivo para eu "gastar" um rolo. Coisas, vá-se lá explicar.

segunda-feira, abril 01, 2019

Junho de 2005

Lagos Anos 60 - Lapa, Bravo, Palolo e Cutileiro

Fui á exposição dos "quatro magníficos", Bravo, Lapa, Palolo e Cutileiro.

O Bravo. Descrever o Bravo está de facto fora dos meus projectos literários. É uma figura de tal riqueza humana que eu não teria palavras para o descrever. Recordo-me das inúmeras tardes no Snack-bar abrigo em que ia chegando um e outro, adolescentes e não adolescentes e todos tinham uma palavra para o Bravo. Sempre vestido em tons de castanho com umas calças de ganga, recordo-me. Sempre com uma palavra de entendimento para os problemas que partilhávamos com ele. Sempre uma história para contar. Por muito que Lagos faça numca o engrandecerá tanto como ele nos engrandeceu a nós. Os amigos dele. Um dia chegou ao pé de mim e disse-me para eu ir lá a casa com a Zézinha. Eu tinha-lhe feito umas esquadrias para as telas. Era um quadro que nos queria oferecer por ter sentido que a Zezinha tinha ficado apaixonado por ele. Há tempos esteve em minha casa um negociante que me ofereceu uma quantia de arregalar os olhos. A zézinha nem lhe olhou para a cara. E eu continuo com a minha sala “abrilhantada” com um Bravo, e continuarei. Por muito dinheiro que me ofereçam. O Bravo é uma recordação de que eu preciso.

O Lapa. Foi meu professor, ele e a Lena, mas as recordações são vagas. Nunca apreciei muito a sua pintura, apesar de adorar as recordações das suas prelecções sobre arte, e não só. Depois que ele se mudou para o Porto nunca mais o vi. Mas tenho pena porque sempre achei que era alguém cuja inteligência estava deslocada do tempo em que vivia. Gostei de rever alguns dos quadros que lhe decoravam a casa em Lagos. Gostei principalmente de ver um que me fez recordar o tempo do Golégio na Rua da Igraja de S. Sebastião.

O Cutileiro. Não é arte que me desperte a atenção, também é pessoa que não me faz deslocar a lado nenhum para ver a sua obra. Será pelo que lhe ouvi dizer acerca de Lagos numa entrevista que lhe fizeram poucos anos depois de se ter mudado para Évora? Não sei, mas apesar de ter privado com eles umas quantas vezes, na casa dele nas freiras, apesar de achar que ele é, ou era, muito melhor fotografo que escultor, não é pessoa de quem goste, muito menos da sua obra.

O Palolo. Conheço-lhe serigrafias com qualidade, de resto mais nada. E não tenho pena, pelo que vi e na busca que fiz na net, fiquei convencido.

HÁ SEMPRE UM DIA ASSIM
Há sempre um dia em que o sol nasce
Há um dia em que o mar invade a terra
Há sempre um dia assim
Há sementes de luz
Há sementes de sol
Há luz num dia assim
Há sementes de paz
Há tranquilidade num dia assim 
Há relações interessantes e tranquilas
Há sempre uma assim
Há gerações opostas e interpostas
Há relações que se descrevem
Há outras que não
Há gente
Há pessoas
Há paz num dia assim
Há mar e mar
Há estar
Há sol e ir
Há voltar
Há ter e haver
Há querer e ser querido
Há dar e receber
Há isso aí num dia assim 
Há uma flor que não se dá nem se vê
Há uma flor que está aí
Há um pensamento que se tem mas não se diz
Há sempre um dia assim!